Nos últimos dias, circulou na internet e rodas de conversa, um certo debate em programa de TV, no qual uma pré-candidata foi interrompida várias vezes, sem conseguir, sequer, expor suas ideias. Pois bem, nem vou entrar no mérito de partido político, propostas, posicionamentos entre outros. Quero falar da tentativa de silenciamento e ridicularização do feminino, que é uma constante em nossa sociedade.
Recentemente, esse tema foi destaque com uma comentarista de futebol em rádio e também nos muitos casos noticiados de assédio, nos quais ainda se questiona o papel "provocativo" da mulher. É tanta a naturalização da coação com as mulheres que, até hoje, nas situações de separação de casais, surge o argumento da falta de cuidado com o parceiro, como se o dom do zelo fosse obrigação apenas do feminino.
Apesar desses comportamentos citados, o que se percebe é que as mulheres despertam (finalmente) para o controle de si. Descobrem que, de fato, podemos não estar mais sob o domínio do masculino. O tempo das nossas avós passou. Aquele no qual os conselhos eram: "melhor mal acompanhada do que só", "cuide para não ficar mal falada", "melhor se sofrer junto do que viver separada". Trocamos até mesmo o fundo musical: partimos de "um homem para chamar de seu" para "vai malandra". Constatamos que somos fortes, inclusive sozinhas. Aprendemos, aos poucos, a nos proteger mais.
Se todas avistássemos esse futuro, a violência e a opressão que o sexo feminino vem enfrentando ao longo dos anos estariam com os dias contados. Portanto, é preciso conscientizar toda a sociedade para a importância do cultivo do respeito e igualdade de oportunidades para todos os gêneros.
Apesar dos inegáveis avanços, ainda existe um abismo que separa feminino e masculino quanto aos aspectos profissionais, financeiros e sociais. Para combater essa desigualdade é crucial revelar os espaços que bravamente estamos alcançando. Somos professoras, jogadoras, veterinárias, enfermeiras, médicas, juízas, engenheiras, dentistas, artistas, advogadas, agricultoras ou o que quisermos ser. Quando não é possível carregar os filhos(as) para sairmos em busca de melhores oportunidades e necessitamos delegar o cuidado transitório da prole com nossa rede de suporte, ao retornar, explicamos o quanto esse processo é valoroso para nosso crescimento. Procuramos esclarecer que não paramos de amá-los buscando sucesso no estudo e/ou trabalho. Ao contrário, mostramos que lutar bravamente por melhores condições de vida é digno.
É fundamental discutirmos o que leva a situações de insatisfação e frustração por parte das mulheres. Esses fatores podem influenciar em decisões importantes como a escolha de uma profissão, de posicionamentos públicos e, até mesmo, de denunciar algum abuso ou agressão, mesmo que verbal. Notou algum comportamento desagradável por parte de um chefe, familiar, amigo, colega ou mesmo um desconhecido? Não fique quieta. Converse, discuta, coloque o seu ponto de vista. E se te chamarem de louca? Paciência. Sabemos que nunca foi fácil essa caminhada, mas podemos deixar um mundo mais prudente para as mulheres que virão.
Pesquisa realizada em 24 países pela Global Advisor da Ipsos, em 2017, revelou que 41% das brasileiras confessaram ter medo de se expressar e lutar pelos seus direitos. Precisamos dar um basta. Chega de subordinação, dominação, agressão e submissão na esfera familiar, profissional e social. Agora é a hora! Solte essa voz presa na garganta: lute por dias melhores.